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Foto do escritorViviane Silva

Nos últimos anos, casos de AVC aumentam no Brasil

Atualizado: 9 de jan.

Misael Messias é aposentado e teve a rotina modificada após sofrer um Acidente Vascular Cerebral



“Antes eu tinha minhas atividades, corria, jogava bola, sempre fui ativo” explica Misael, que viu sua vida mudar em decorrência do AVC. (Foto: Viviane Silva)

A doença, que também é conhecida como Derrame Cerebral, tem acometido cada vez mais pessoas no mundo. Segundo  uma pesquisa publicada pela revista inglesa The Lancet Neurology, os casos de acidente vascular cerebral (AVC) no mundo aumentaram 70% entre 1990 e 2021. No caso do Brasil, junto ao aumento de casos, cresceu também os índices de mortes. De acordo com dados obtidos através do Portal de Transparência do Registro Civil, vinculado à Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil), foram registrados  39.345 óbitos pela doença de janeiro a agosto de 2024. 


Com o aumento de casos da doença, a rotina de muitos brasileiros mudou. É o caso de Misael Messias, 60 anos, que precisou rever seus  hábitos. O aposentado sofreu um AVC há dois anos e convive com as sequelas deixadas. Ele conta que a vida mudou completamente após o acidente. “Hoje para tomar banho tenho que me apoiar na parede, pois não tenho muita sustentação na perna.” desabafa. Misael atualmente é aposentado, mas antes exercia a função de lavrador e é morador da zona rural do município de Lagarto, localizada no interior de Sergipe. Sua vida sempre foi ativa, ele nunca fumou e só ingeria bebidas alcoólicas casualmente, porém o diagnóstico da diabetes, se torna suscetível a ter AVC. 


O idoso é viúvo, mora sozinho e tem três filhos, no momento em que ele começou a sentir os sintomas, seu filho mais velho, Misael Júnior, estava em casa. De imediato, ele amparou o pai e o levou até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Ao ser levantada a suspeita de um AVC,  ele foi encaminhado para o Hospital de Urgências do Estado de Sergipe (HUSE), lá foi feita uma bateria de exames para certificar qual era o tipo de AVC e quais cuidados recomendados. O rápido atendimento e a correta identificação dos sintomas foram vitais  para a sobrevida de seu Misael, facilitando também o seu tratamento.


Os três filhos de Misael moram próximo a casa dele, isso contribuiu desde o momento que o idoso foi socorrido até os cuidados após o acidente. Todos tiveram que adaptar a rotina para lidar com os desafios do processo de reabilitação do pai. “A rotina de todos foi alterada por conta dos cuidados necessários para uma boa recuperação, como por exemplo a melhoria na alimentação e as refeições feitas  na hora certa”, relata Juliana Messias, filha do meio do aposentado.


Três dias antes do acidente, ele sentiu dormência no braço esquerdo e em seguida dores de cabeça, mas achou que poderia estar relacionado ao cansaço do dia a dia, por esse motivo não buscou ajuda médica imediata, apenas tomou chás e remédios para dor de cabeça. No entanto, no dia 7 de julho de 2022, precisou ser socorrido às pressas. “Era domingo de manhã, acordei para ir à feira com meu filho e quando  coloquei meus pés no chão, não senti nada, minha cabeça esfriou, os dedos e braços ficaram travados. Fiquei sem entender o que era, nem pensei em AVC”, relata.



Existem alguns sinais que o corpo dá que ajudam a reconhecer um Acidente Vascular Cerebral.  (Arte: Tatiane Macena via Canva)

Cuidado multiprofissional 


Conforme informações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, existem dois tipos de Acidente Vascular Cerebral, o hemorrágico que ocorre por conta de um rompimento do vaso cerebral e o isquêmico, que ocorre quando há obstrução de uma artéria. De  acordo com o órgão,  o primeiro tem menor incidência porém tem maior letalidade, já o segundo, que é o mais comum, acomete mais pessoas, tem a  letalidade menor, e deixa menos sequelas, possibilitando que o tratamento seja de maior facilidade.


No caso do ex-lavrador, o diagnóstico foi de AVC Isquêmico. “A médica falou para mim que eu dei sorte por ter sido esse AVC Isquêmico, e que, esperava que eu não tivesse grandes sequelas”, explica. Ainda que seja o mais simples de ser tratado, o seu processo de reabilitação não foi fácil, e ele precisou da ajuda de uma equipe médica multiprofissional. Além do neurologista,  teve auxílio de um fisioterapeuta e de uma nutricionista, outros profissionais não foram requisitados, pois até então os maiores problemas dele estavam relacionados aos movimentos físicos e sua alimentação. 


Inicialmente, ele buscou tratamento através do Sistema Único de Saúde (SUS), no entanto não conseguiu ter acesso imediato, por isso, com ajuda da família, buscou  um centro particular de fisioterapia. Um tempo depois conseguiu fazer fisioterapia via SUS,  ao  todo conseguiu fazer 40 sessões gratuitas, isso o desafogou financeiramente. “Fazia num posto de saúde no povoado aqui do lado. Ir para o centro de Lagarto seria longe. No início minha filha me acompanhava, mas quando melhorei  fisicamente, passei a ir de ônibus. Era complicado na hora de subir, mas o motorista tinha paciência e esperava no meu tempo”, afirma. Quanto aos demais cuidados, como idas a um nutricionista, foram feitas algumas  consultas para auxiliar na reeducação alimentar, que também é importante para o tratamento.


Além do neurologista, fisioterapeuta e nutricionista, que auxiliaram no processo de recuperação do aposentado, outros profissionais podem entrar em ação para auxiliar no tratamento de pessoas que sofrem esse tipo de acidente, são eles: terapeutas (fisioterapeuta e terapeuta ocupacional) fonoaudiólogos, psicólogos enfermeiros e outros. Tudo depende da necessidade do paciente, o que não muda é a importância do auxílio de uma equipe multiprofissional. Pois, para além da identificação de sintomas,  o paciente também necessita de um tratamento físico e mental para a diminuição das sequelas e um retorno tranquilo para as suas atividades cotidianas.


Profissional da saúde fala sobre reabilitação

O médico emergencista Wasley Figueiredo, explica que o melhor para a reabilitação de pacientes vítimas de AVC é a união de profissionais da área. 


Reaprender a ser independente


Durante o processo de reabilitação, o paciente precisa reaprender ações, que antes, não significavam esforço, como por exemplo, tomar banho, vestir um short ou cortar uma carne. Tudo isso passou a ser mais difícil para Misael após sofrer o AVC. Nos primeiros meses ele dependia de cuidados durante todo o tempo, mas com a ajuda da fisioterapia, aos poucos foi se adaptando à nova realidade e voltou a fazer essas atividades.


Praticar a corrida como antes não é mais possível, por causa da limitação no lado direito de seu corpo, por isso os exercícios atuais são: caminhadas leves, andar de bicicleta e fazer exercícios de musculação para fortalecimento dos músculos. No caso do fisioterapeuta não faz com a mesma frequência do início do tratamento, porém faz algumas atividades aprendidas durante as sessões que realizava, em relação às tarefas de seu dia a dia, ele explica que faz o básico e conta com ajuda dos familiares para aquelas mais pesadas.


A vida de Misael não é a mesma. De uma hora para outra, ele viu tudo mudar. Primeiro, passou a depender de outras pessoas para executar tarefas simples e depois teve que reaprender a fazer o básico. Alguns hábitos precisaram ser removidos de sua vida, e ele se viu “forçado” a se adequar. Foi se adaptando e aprendeu que, para ele, é como se o relógio tivesse tempo diferente e respeita isso, todavia ainda tem algo que é difícil de se adaptar: ficar longe do trabalho na roça.


Trabalhar na roça ou fazer exercícios pesados não é mais possível para Misael, então ele faz atividades físicas de baixo impacto, tarefas de casa simples e cuida dos bichos. (Foto: Viviane Silva )

Ele mora em um sítio, tem plantações de variados produtos, mas devido ao Acidente Vascular Cerebral, não pode cuidar de sua roça, o que o deixa triste. Antes Misael plantava, limpava e colhia, gostava de trabalhar. “Me afoba ver a roça parada, evito ir nela. Eu fico com tristeza em não fazer algumas coisas, mas aceito”, desabafa. Além da roça, ele costumava fazer tarefas de pedreiro,  em sua casa, hoje precisa esperar que outra pessoa reforme, isso também o entristece, mas tenta ver em outras ocupações a mesma graça que via nas que não pode mais exercer. 


Prevenção e cuidados 


Existem diferentes fatores de risco para o Acidente Vascular Cerebral, alguns, não são modificáveis, como exemplo a raça, idade, sexo e constituição genética. Já outros podem ser modificáveis, como as doenças crônicas (diabetes e hipertensão), tabagismo, obesidade, má alimentação e sedentarismo.  No caso dos que não são modificáveis não há  como prevenir, contudo os cuidados em relação aos modificáveis podem diminuir os casos e fazer com que as sequelas sejam menores.


O médico emergencista Wasley Figueiredo explica que o caminho ideal é ter atenção no tratamento das doenças e melhorar hábitos cotidianos. “Dietas com baixa quantidade de sal, baixa quantidade de carboidratos complexos (açúcar, massas e seus derivados), e atividades físicas. Caso o paciente já tenha hipertensão ou diabetes, é necessário fazer o uso correto dos medicamentos que tratam das doenças crônicas, uma boa noite de sono e uma vida leve e longe de alimentos ultraprocessados. Essas são medidas eficazes para prevenir o AVC”, detalha.


Independente de estar no grupo onde os fatores sejam ou não modificáveis, ter cuidados diários podem fazer com que os riscos de ocorrência de um Derrame Cerebral sejam  reduzidos. Além disso, uma coisa é certa: a rapidez no reconhecimento e o rápido tratamento  pode salvar vidas, e as sequelas deixadas se tornam menores, esse o caso de Misael, que teve atendimento de imediato e foi fiel a cada passo recomendado em seu processo de reabilitação, e assim, mostrou que cada minuto importa.



Por Viviane Silva


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