A luta pelo fim da escala 6x1 é estratégica
A luta da classe trabalhadora pela redução da jornada de trabalho é uma luta histórica. Corresponde ao momento de formação do capitalismo na Europa. No período da revolução industrial, as jornadas eram exaustivas e chegavam até às 16h de trabalho no chão da fábrica, incluindo o trabalho infantil. As mobilizações operárias pela redução da jornada foram fundamentais para a conquista de melhores condições de vida.
Como símbolo maior dessa luta, temos o primeiro de maio – dia internacional do trabalhador e da trabalhadora – como data que faz referência à redução da jornada em todo o mundo. Assim, a ação política em torno do fim da escala 6x1, que ganhou fôlego no último ano no Brasil por meio do movimento VAT – Vida além do trabalho – é tão urgente, quanto antiga. Situar a questão historicamente é importante, pois nos ajuda a enxergar que não é uma questão conjuntural ou somente brasileira, mas um elemento estrutural do modo de funcionamento da sociedade capitalista.
Um dos méritos do movimento VAT é exatamente trazer à tona uma das questões mais importantes do cotidiano da classe trabalhadora, a quantidade de tempo que vendemos a nossa força de trabalho, elemento central da exploração e da produção de mais-valia. Em um momento de grande defensiva das pautas trabalhistas e dos sindicatos no Brasil, a defesa do fim da escala 6x1 ganhou ainda mais importância, pois demonstrou que temos capacidade de mobilizar e partir para ofensiva.
Estamos longe de virar o jogo a nosso favor. A situação reacionária é global. Mas, uma fresta foi aberta. Atos de rua aconteceram em todo país, o debate avançou nas redes sociais e um PL foi apresentado junto ao congresso nacional, pelos parlamentares Rick Azevedo, vereador do Rio de Janeiro e Erika Hilton, deputada federal, ambos do PSOL.
Diante dessa mobilização, fazemos três breves observações. Primeiro, precisamos seguir nas ruas. Mobilizar; Dialogar amplamente com a classe trabalhadora sobre a importância e a possibilidade real de avançarmos. Não é possível confiar no congresso nacional e nas instituições burguesas. A conquista de direitos trabalhistas nunca foi uma bondade da elite, mas fruto de lutas históricas e grandes mobilizações. Isso inclui o trabalho de base junto aos setores que trabalham na escala 6x1, a disputa nas ruas e nas redes sociais. Essa combinação é decisiva para a vitória do movimento.
Em segundo lugar, apesar de massiva, a luta pelo fim da escala 6x1 não atinge toda a classe trabalhadora, especialmente na periferia, diante da atual composição do mundo do trabalho. Quem é o trabalhador e a trabalhadora brasileira? Apenas uma parte é CLT. Segundo a Agência Brasil, o número de empregados com carteira de trabalho no setor privado atingiu 37,9 milhões em 2024. (1) Outra parte significativa trabalha sem carteira assinada ou de forma autônoma. De acordo com o IPEA, em 2022, mais de 40 milhões de pessoas trabalhavam em situação de informalidade no Brasil (2). Há ainda um índice de desemprego na casa dos 8 milhões (3).
Em um país de base histórica colonial e escravista como o Brasil, esse quadro demonstra a dificuldade da classe trabalhadora em ter uma perspectiva digna de trabalho e direitos mínimos garantidos. Por isso, é fundamental que a luta pelo fim da escala 6x1 seja acompanhada de uma luta por mais empregos e mais direitos sociais. O grau de vulnerabilidade social é imenso e somente uma luta conjunta de todos os setores da classe trabalhadora – dos mais estáveis aos mais precários – tem condições de dobrar a conjuntura conservadora e emparedar o setor patronal.
Finalmente, seguir firme na tática, sem perder o horizonte na estratégia. Isto é, saber que reduzir a jornada é uma grande vitória, mas que não encerra a exploração capitalista. Parece óbvio, mas é importante frisar, posto que a nossa luta é muito maior que a melhoria dos salários e das condições de trabalho. Lutamos por um mundo em que não exista exploração do trabalho, uma sociedade que não tenhamos patrões e empregados, que o trabalho não seja alienado. Ou seja, uma sociedade de livres produtores associados, com uma economia planejada e que atenda as demandas da sociedade e não os interesses de alguns poucos.
Chamamos esse modelo de socialismo. Muito embora, esteja difícil de visualizar essa perspectiva nos tempos atuais, ela segue atual, pois necessária. E se constrói não apenas por meio de discursos e abstrações, mas principalmente na luta concreta, em cada batalha econômica e política da classe trabalhadora. A luta pelo fim da escala 6x1 é, portanto, estratégica para o nosso presente e futuro.
Sobre o autor
Alexis Pedrão é professor, militante do movimento negro e do PSOL, doutor em Educação e professor de História do Direito. Ele atua na formação política, especialmente junto às comunidades negras e à juventude.
Referências citadas no texto
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