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Foto do escritorTatiane Macena

Ivan Santos Araújo, um poeta sábio e autodidata

Atualizado: 30 de mar.



Autodidata, Ivan Santos Araújo aprendeu de tudo um pouco. O homem que tem uma certa dificuldade em definir qual com que profissão se identifica, aproveitou bastante todas as oportunidades que bateram em sua porta. Sempre foi muito curioso, por isso quando queria saber como funcionava alguma coisa, abria para examinar o interior, consequentemente, foi acumulando sabedoria ao decorrer do tempo. Predestinado à escrita, morou por um curto período com sua mãe na casa do grande poeta sergipano, João Ribeiro em laranjeiras, pois por ser de origem humilde, a família não tinha onde ficar, então o espaço foi cedido para eles.


O poeta nasceu no dia 16 de novembro de 1958 em Aracaju, e viveu parte da infância em Laranjeiras. Na hora do parto de Ivan, Maria da Glória dos Santos Araújo passou por complicações e por isso, teve que ser transferida imediatamente para a maternidade Santa Isabel, na capital sergipana. Depois do nascimento do pequeno Ivan, dona Maria da Gloria retornou para sua cidade, tendo que voltar à capital depois de quatro anos, pois mais uma vez a saúde de seu filho era motivo de preocupações. O garoto precisou ser operado, pois estava com problemas nos rins e na bexiga.


Depois do episódio, a família ficou morando em Aracaju, passando por diversos bairros, até chegar ao Santa Maria, onde Sr. Ivan reside até hoje. Ivan, juntamente com dona Maria e mais um sobrinho chegaram a morar próximo ao antigo mangue do bairro Jardins, onde pegavam caranguejos para ajudar no sustento da casa. Atualmente no local funciona o Shopping Jardins. Ivan fala do privilégio que era viver em um lugar tão bonito. “Aquele lugar era fantástico! Naquela época era bonito demais. Me lembro de acordar cedo para ver o sol nascendo e os pássaros cantando. Me sentava na beira do Rio Poxim, e tinha inspiração para escrever. Aliás, aquele local já se tratava de uma poesia viva. Hoje, infelizmente ninguém mais toma banho naquele rio por causa da poluição”. Lamenta.


Entusiasta, o sergipano sempre gostou de saber como as coisas ao seu redor funcionavam, por isso sempre fazia perguntas aos mais velhos, e quando não tinha respostas, ia em busca delas por conta própria, se satisfazendo apenas quando finalmente entedia o objeto estudado. Além disso, Ivan sempre teve estima pela educação. Apesar de não ter boas condições financeiras, sempre que via um livro jogado, resgatava e adquiria para si o conhecimento do exemplar. “As pessoas me perguntavam o porquê de eu querer saber das coisas, e me achavam muito curioso, e eu era mesmo”. Afirma.


Com cerca de 15 anos, o poeta teve o seu primeiro poema publicado. Um grupo da Universidade Federal de Sergipe (UFS), que estava com um projeto para crianças carentes, solicitou que o garoto fizesse versos para a ocasião, e assim a poesia “A jovem encantada” foi publicada no Cemic, um pequeno jornal administrado pelos estudantes naquela época.


Ivan tem uma irmã mais velha, filha de seu pai e de sua mãe, e mais seis meios irmãos paternos. O genitor do poeta, Antônio Luiz, faleceu quando ele tinha vinte anos. No entanto, Ivan não teve tanto entrosamento nem com ele nem com os irmãos da parte dele. Só na velhice do pai, os irmãos de Ivan se aproximaram dele, pois o Sr. Antônio Luiz, pedira que os filhos cuidassem do irmão casula.


Além da paixão pela escrita, Ivan sempre gostou de desenhar. O desenhista amador chegou a ter dois de seus desenhos em capas de livros. Um desses, foi capa da obra de Alberto Roiphe, nomeada como ‘Fuxico: o disse me disse na literatura de cordel’. O ilustrador que também tem bom gosto musical, aprecia a música popular brasileira (MPB), o jazz e bandas clássicas como The Beatles. O gosto pela arte iniciou após um contato com obras do pintor holandês Vincent Van Gogh, já a preferência musical começou ainda na infância, por causa de uma vizinha. “A minha mãe me levava pra assistir televisão na casa de uma mulher chamada dona Amanda, e ela escutava esse tipo de música, eu ouvi e gostei”. Conta.


Poliglota, além do português, Ivan domina a língua inglesa e espanhola. O interesse pelo espanhol se deu quando ele ainda era um rapaz, e leu uma poesia do poeta chileno Pablo Neruda. A partir dali, passou a estudar sozinho o idioma. O aprendizado da língua inglesa também ocorreu de forma autodidata. O estudioso gostava de ouvir músicas internacionais e traduzir. Ele só não praticava conversação, pois não havia quem treinasse com ele, mas consultava sempre o dicionário inglês.


Ivan é um apreciador da educação. Devido ao seu esforço em obter conhecimento, fez amizade com muitos professores e, com o passar do tempo, a sua estima pela profissão só aumentava. “Apesar de ter sido um aluno muito inquieto, eu era apaixonado por meus professores. Eu ficava me perguntando como era possível uma pessoa se entregar tanto, e dominar tantos alunos em uma sala de aula, os ajudando a tornar-se cidadãos de grande prestígio na sociedade”. Relata.


Ivan trabalhou um ano como Office Boy no jornal da cidade. Lá, além de fazer pagamentos e entregar correspondências, ele ajudava na organização das páginas do periódico. Na ocasião, Ivan teve a oportunidade de entregar matérias escritas por Paulo Fernando Teles Morais, correspondente da revista VEJA e do jornal O GLOBO. Além dessas experiências profissionais, ele fez parte do quadro de funcionários do porto de Aracaju como portuário, onde permaneceu por quatorze anos. Atualmente, o poeta trabalha como executor de serviços básicos no Colégio Estadual Vitoria De Santa Maria.


O perfilado optou por não ter herdeiros devido às dificuldades que enfrentara na infância “Minha mãe teve muitas dificuldades para me criar. Lembro-me de não ter condições de comprar uma simples folha de papel. Por isso, eu não quis colocar mais crianças no mundo para sofrer. Eu já ajudei a muita gente, que hoje tem respeito por mim, e eu por eles. São essas pessoas que eu considero como meus filhos”. Diz o homem que possui muitos filhos de coração.


O pedagogo Valtênisson Januário dos Santos, o Saha, é um dos admiradores do poeta. O rapaz idealizou e desenvolveu o projeto de uma biblioteca comunitária no bairro Santa Maria, e nomeou o local como Biblioteca Comunitária Ivan dos Santos Araújo, que tem o propósito de dar perspectiva de vida e visão de futuro para as crianças e jovens da comunidade. “Decidi homenageá-lo por ele ser um grande poeta, grande ser humano, pelo respeito e valor de suas obras, e por sua história de vida. O mais fantástico é que esse grande patrimônio imaterial é morador de um bairro desprezado, que infelizmente não valoriza a cultura no modo geral”. Lamentou o jovem.


De bem com a vida, Ivan Araújo aprendeu a aproveitar a sua própria companhia, e diz que apesar de viver sozinho não sente falta de ninguém. “Quando menino, eu tinha medo de alma e do papa figo, mas a minha mãe era muito religiosa, e me mostrou que existe um Deus que nunca me deixa só. Então quando a solidão bate na porta, me lembro disso. Ademais, a gente tem que entender que não nascemos colados com ninguém. Acredito que as pessoas que realmente fazem falta são os nossos pais, mesmo assim não devemos ficar inculcados com isso, porque um dia, por um processo natural, eles não estarão mais conosco”. Afirmou.


Fazendo alusão ao Pequeno Príncipe de Antoine de Saint, Ivan diz que o mais importante das pessoas é aquilo que é invisível aos olhos. “O que me encanta é saber que ainda existem pessoas boas. É aquilo que o ser humano não tá vendo. Ele pode até ver com os olhos, mas não vê com a alma. O que me deixa encantado é isso, o coração das pessoas boas. Quando você passa a ver as coisas com o coração, você é feliz, mas quando as pessoas veem somente com os olhos da cara, elas não têm alegria. Eu acho que o essencial é invisível aos olhos”. Declara.


Quando questionado sobre os seus sonhos, o poeta sergipano cita a necessidade de as pessoas serem boas umas com as outras. “O meu sonho é ver a humanidade bem. Quero ver as pessoas se respeitando, independente das diferenças. Não gosto de ver um indivíduo maltratando o próximo, porque ele pensa ou é diferente. Somente Deus pode julgar, e não existe ninguém melhor do que os outo. O preconceito é uma coisa boba”. Finaliza.

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