Mesmo diante de violações de direitos, acampamento da Cabrita resiste em São Cristóvão
Lutar por uma moradia não é crime, é uma reivindicação legítima. O direito à moradia é garantido pela Constituição Brasileira de 1988 no artigo 6, e é também previsto no artigo 17º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que assegura a todo ser humano o direito à propriedade, seja de forma individual ou coletiva. No entanto, para as famílias do acampamento Nossa Senhora d’Ajuda, localizado no povoado Cabrita, em São Cristóvão, Sergipe, a busca pela moradia tem sido uma batalha árdua.
Em novembro de 2014, famílias do acampamento foram surpreendidas por uma violenta ação de reintegração de posse, que resultou na destruição de 72 casas, e no sofrimento dos ocupantes, entre eles estavam mulheres, crianças, idosos e PcDs, que presenciaram a queda de suas residências em frações de segundos. Sem ter para onde ir, os ocupantes firmaram acampamento às margens da rodovia João Bebe Água, onde permaneceram por três anos, retornando ao local em 2017. Em 2020, saiu uma reintegração de posse favorável às famílias da Cabrita.
Dez anos depois, as feridas seguem ardendo, mas a resistência e o sonho por um, ‘pedaço de chão’ continuam. “Tentaram destruir nossos sonhos, mas não deixamos de sonhar”, é a frase destacada em um faixa pendurada no barracão da resistência. Mesmo diante das violações dos direitos humanos, os agricultores do acampamento continuam a fornecer comida para os sergipanos e plantam "flores para todos" (representadas por girassois), para atrair prosperidade e esperança. Para eles, resistir é praticar a agricultura familiar, lutar pelo direito de plantar e colher e compartilhar conhecimentos com a sociedade.
Enquanto lutam pelo direito de plantar, colher e morar, as famílias da Cabrita, de maneira simbólica, devolvem flores à sociedade. (Fotos: Gasú)
A ocupação dessa localidade se firmou como uma prática de agricultura familiar, reforçando o direito de plantar e colher, além de reforçar a importância do vínculo com a terra. O cuidado com a natureza é visível em toda área. A vida que pulsa no acampamento conhecido como resistência da Cabrita é diferente da cerca vizinha (até a cor da grama é diferente do outro lado). A diferença não está apenas no ato de cuidar, mas também no pensar coletivo "Ubuntu, sou porque nós somos", diz Jielza Correia, liderança da localidade, reforçando a importância de se estar em coletivo.
A vida que pulsa nesta comunidade é resultado da conexão da terra com a agricultura familiar, que respeita e preserva a natureza. (Foto: Gasú)
As mudas de girassol, passadas de mão em mão durante o plantio, representam a força, a fé e a esperança que unem os moradores na resistência. (Fotos: Gasú)
As terras foram adquiridas em 1946 para captar água e, em 1970, passaram a ser de propriedade da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso). Apesar disso, particulares dizem ser donos da área. O Ministério Público Federal, por sua vez, defende que as terras são públicas e historicamente ocupadas por pequenos agricultores, que devem ser assentados pelo Incra. Ainda assim, a especulação imobiliária e grileiros tentam tomar posse, o que resultou em diversos conflitos.
Apesar de a moradia ser um direito assegurado pela constituição federal, a desigualdade fundiária ainda é grande no Brasil. (Foto: Gasú)
“As pessoas que aqui estão ocuparam essa área de terra desde lá o início dos anos 90 por necessidade de moradia por necessidade de plantar comida para sobreviver ter trabalho tem um teto e teu pão para comer mas os poderosos os que querem mais que não se saciam que a história do nosso país a história de dominação do mundo tentam nos tirar por quase três décadas”, afirmam os moradores.
Enquanto aguardam a decisão final da justiça, os moradores não podem construir casas de alvenaria, mas a esperança por um ‘pedaço de chão’ segue com eles. (Fotos: Gasú)
Fotos Gasú
Texto: Tatiane Macena
Edição das fotos: Gasú
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Muito lida estA estória desi povo lutado